Linha do Tempo

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terça-feira, 3 de maio de 2016

A. M. Duarte de Almeida

Não sei o que há de vago,
De incoercível, puro,
No vôo em que divago
Á tua busca, amor!
No vôo em que procuro
O bálsamo, o aroma,
Que se uma forma toma,
É de impalpável flor!

Oh como te eu aspiro
Na ventania agreste!
Oh como te eu admiro
Nas solidões do mar!
Quando o azul celeste
Descansa nessas águas
Bem como nestas mágoas
Descansa o teu olhar!

Que plácida harmonia
Então a pouco e pouco
Me eleva a fantasia
A novas regiões...
Dando-me ao uivo rouco
Do mar, nessas cavernas,
O timbre das mais ternas
E pias orações!

Parece-me este mundo
Todo um imenso templo!
O mar já não tem fundo
E não tem fundo o céu!
E em tudo o que contemplo,
O que diviso em tudo,
És tu!... esse olhar mudo...
O mundo és tu... e eu!

Nos primeiros versos, o eu-lírico questiona-se sobre o que há de tão bom em caminhar sem rumo e pensativo em busca de seu amor. Um sentimento que apesar de ser descrito como vago, era algo impossível de se conter e puro.
Nessa busca, o consolo e o cheiro de sua amada faz com que o eu-lírico descreva sua amada como uma flor que não pode ser alcançada. A palavra “Bálsamo”, inicialmente com ideia de consolo, alívio, alento, também se refere a uma planta com propriedades ornamentais e medicinais.
O eu-lírico expressa seu desejo e sua admiração pela mulher amada, não importando se ele estivesse na ventania do agreste ou sozinho no mar.  Ele compara as suas mágoas ao céu azul que toca as águas do mar, pois ele foi tocado pelo olhar dela e mesmo assim não teve seu amor correspondido.

Apesar da busca, das mágoas, o homem sente harmonia e continua a fantasiar com outros lugares, se realmente estivesse sobrevoado naqueles lugares antes descritos. Ele compara os sons do mar que ecoava dentro da caverna como um doce e cansado som de orações. Na última estrofe, o eu-lírico admite que suas fantasias com paisagens e lugares longínquos são apenas alusões aos sentimentos que ele possui pela pessoa amada, tudo ocasionado pelo olhar que ele tanto admira. 

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