Linha do Tempo

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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Não te Amo - Almeida Garrett

Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
      E eu n’alma - tenho a calma,
      A calma - do jazigo.
      Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
      E a vida - nem sentida
      A trago eu já comigo.
      Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
      De um querer bruto e fero
      Que o sangue me devora,
      Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
      Quem ama a aziaga estrela
      Que lhe luz na má hora
      Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
      De mau, feitiço azado
      Este indigno furor.
      Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
      Que de mim tenho espanto,
      De ti medo e terror...
      Mas amar!... não te amo, não.

“Não te amo” é um poema romântico, e o próprio título realça a idéia de sentimentalismo, de tema amoroso. Aliás, a freqüente repetição de “não te amo” não é mais que uma artimanha para se afirmar o amor. A negação acaba por evidenciar um sentimentalismo repudiado: o amor.
O eu-lírico deixa a inspiração sobrepujar a razão e as tentativas de justificar levam-no a ceder-se a um amor sôfrego, mesmo “aterrorizante”:

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