Linha do Tempo

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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Barca Bela - Almeida Garrett


Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Oh pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Oh pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela

Oh pescador!

Nestes prezava-se a razão. Para seus defensores o verdadeiro é o natural e o natural é o racional. Dentro da visão iluminista prezavam-se, na poesia, valores como clareza, ordem lógica, adequação ao pensamento. Em Portugal, figuras como Verney, que liderava o movimento de ilustração, pregavam o predomínio absoluto à aplicação das normas, extremamente racionalistas, para eles poetar dependia de conhecer as normas da poesia; quando alguém as abandona e confia na inspiração, desanda. O engenho (imaginação) do poeta deveria estar permanentemente subordinado ao juízo, muito mais importante. Sem obediência à razão não haveria beleza.
O romantismo propõe, com sua carga revolucionária, a quebra desse sistema rígido e alienante imposto pelo classicismo. Para o romântico, o encontro com a verdade se alcança pela sinceridade, o homem busca o que tem de mais sincero: o seu instinto, o seu sentimento, finalmente dando vazão ao seu mundo interior. E são os preceitos românticos em contestação ao classicismo, que Almeida Garrett vem evocar em seu poema.

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