Linha do Tempo

Linha do Tempo

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Destino - Almeida Garrett

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Em nível de estrutura externa do poema, Almeida Garrett opta por três estrofes de oito versos (oitava) e usa, relativamente ao esquema rimático, a rima cruzada (ABAB) nos primeiros quatro versos de cada estrofe e a rima emparelhada (AABB) nos dois últimos versos de cada estrofe. A rima é também rica e atoante. Quanto ao esquema métrico o poema é composto por redondilhas maiores (7 sílabas métricas), por octossílabos (8 sílabas métricas) e o último de todos os versos é hexassilábico (6 sílabas).

O Anjo Caído - Almeida Garrett

Era um anjo de Deus
Que se perdera dos céus
E terra a terra voava.
A seta que lhe acertava
Partira de arco traidor,
Porque as penas que levava
Não eram penas de amor.

O anjo caiu ferido
E se viu aos pés rendido
Do tirano caçador.
De asa morta e sem esplendor
O triste, peregrinando
Por estes vales de dor,
Andou gemendo e chorando.

Vi-o eu, n anjo dos céus,
O abandonado de Deus,
Vi-o, nessa tropelia
Que o mundo chama alegria,
Vi-o a taça do prazer
Pôr ao lábio que tremia
E só lágrimas beber.

Ninguém mais na terra o via,
Era eu só que o conhecia
Eu que já não posso amar!
Quem no havia de salvar?
Eu, que numa sepultura
Me fora vivo enterrar?
Loucura! Ai, cega loucura!

Mas entre os anjos dos céus
Cantava um anjo ao seu Deus;
E remi-lo e resgatá-lo,
Daquela infâmia salvá-lo
Só força de amor podia.
Quem desse amor há-de amá-lo,
Se ninguém o conhecia?

Eu só, – e eu morto, eu descrido,
Eu tive o arrojo atrevido
De amar um anjo sem luz.
Cravei-a eu nessa cruz
Minha alma que renascia,
Que toda em sua alma pus,
E o meu ser se dividia,

Porque ela outra alma não tinha,
Outra alma senão a minha...
Tarde, ai! tarde o conheci,
Porque eu o meu ser perdi,
E ele à vida não volveu...
Mas da morte que eu morri
Também o infeliz morreu.

A trama do poema O Anjo Caído é regida por duas forças superiores e antagônicas, uma celeste e a outra terrena, às quais correspondem dois seres tais quais celestial e terrenal: o anjo caído e o eu lírico. Aquela força abandona, enquanto esta se impõe; abandona o que a representa e, então, ele, o anjo, é submetido aos pés da figura terrenal opressora.

Barca Bela - Almeida Garrett


Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Oh pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Oh pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela

Oh pescador!

Nestes prezava-se a razão. Para seus defensores o verdadeiro é o natural e o natural é o racional. Dentro da visão iluminista prezavam-se, na poesia, valores como clareza, ordem lógica, adequação ao pensamento. Em Portugal, figuras como Verney, que liderava o movimento de ilustração, pregavam o predomínio absoluto à aplicação das normas, extremamente racionalistas, para eles poetar dependia de conhecer as normas da poesia; quando alguém as abandona e confia na inspiração, desanda. O engenho (imaginação) do poeta deveria estar permanentemente subordinado ao juízo, muito mais importante. Sem obediência à razão não haveria beleza.
O romantismo propõe, com sua carga revolucionária, a quebra desse sistema rígido e alienante imposto pelo classicismo. Para o romântico, o encontro com a verdade se alcança pela sinceridade, o homem busca o que tem de mais sincero: o seu instinto, o seu sentimento, finalmente dando vazão ao seu mundo interior. E são os preceitos românticos em contestação ao classicismo, que Almeida Garrett vem evocar em seu poema.

Não te Amo - Almeida Garrett

Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
      E eu n’alma - tenho a calma,
      A calma - do jazigo.
      Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
      E a vida - nem sentida
      A trago eu já comigo.
      Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
      De um querer bruto e fero
      Que o sangue me devora,
      Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
      Quem ama a aziaga estrela
      Que lhe luz na má hora
      Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
      De mau, feitiço azado
      Este indigno furor.
      Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
      Que de mim tenho espanto,
      De ti medo e terror...
      Mas amar!... não te amo, não.

“Não te amo” é um poema romântico, e o próprio título realça a idéia de sentimentalismo, de tema amoroso. Aliás, a freqüente repetição de “não te amo” não é mais que uma artimanha para se afirmar o amor. A negação acaba por evidenciar um sentimentalismo repudiado: o amor.
O eu-lírico deixa a inspiração sobrepujar a razão e as tentativas de justificar levam-no a ceder-se a um amor sôfrego, mesmo “aterrorizante”:

Este Inferno de Amar - Almeida Garrett

Este inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

O poema “Este Inferno de Amar", de Almeida Garrett, é composto por três estrofes, contendo seis versos em cada estrofe. O poema possui versos livres e melodiosos típicos do romantismo. Percebe-se, no poema, uma ideia contrária daquilo que temos por amor, uma vez que, temos a convicção que o amor nos da sensação de prazer, felicidade e encanto, enquanto para o “eu- lírico", amar é um inferno. Percebe-se também no poema, a confusão dos sentimentos do amante.

Poemas completos de Júlio Dinis


MOMENTO DECISIVO
O Sol descia ao poente,
E florente estava o prado;
Ouviam-se auras suaves
E das aves o trinado.

Tu sentada ao pé da fonte
O horizonte contemplavas
Vias o Sol declinando
E, corando, suspiravas.

E depois... seria acaso?
Do ocaso a vista ergueste,
E, ao olhar-me, mais coraste,
Suspiraste e emudeceste.

Foi bem rápido o momento
De um alento repentino;
Porém nesse olhar de fogo
Eu li logo o meu destino.

Nesse olhar, no rubor vivo,
No furtivo respirar...

Diz, tu mesma nessas letras
Não soletras já: amar?

José de Alencar



José de Alencar foi o pioneiro do Movimento Literário Romantismo no Brasil. Nascido no Nordeste Brasileiro teve sua primeira obra publicada aos seus 26 anos, a qual levou o título: Cinco Minutos. Esse autor era diferente dos autores de sua época que escreviam suas histórias a partir de uma perspectivas Portuguesas, Alencar tinha o Brasil como cenário em todas as suas obras, já que valorizava o sertão e o índio, assim se tornando um romancista  indianista.
Em suas Obras, Alencar mostra um cuidado maior com a cultura nacional Brasileira, expressando em suas narrativas Urbanas fazendo críticas  sociais, já em suas  obras Indianistas procurava narrar o índio como mocinho e o homem branco como vilão, em suas obras com temas regionais valorizava os costumes naturalmente de pessoas Brasileiras do interior e a histórica explora temas como Colonização e Exploração no Brasil.

Romances:
1856 – Cinco Minutos
1857 – O Guarani, A Viuvinha
1862 – Lucíola
1864 – Diva
1865 – Iracema, As Minas de Prata (1o Volume)
1866 – As Minas de Prata (2o Volume)
1870 – O Gaúcho, A Pata da Gazela
1871 – O Tronco do Ipê, A Guerra dos Mascates (1o Volume)
1872 – Sonhos d’Ouro, Til
1873 – Alfarrábios (O Garatuja, O Ermitão da Glória, Alma de Lázaro), A Guerra dos Mascates (2o Volume)
1874 – Ubirajara
1875 – Senhora, O Sertanejo
1893 – Encarnação

Teatro:
1857 – O Crédito, Verso e Reverso, Demônio Familiar
1858 – As Asas de um Anjo
1860 – Mãe
1867 – A Expiação
1875 – O Jesuíta

Não-ficção:
1856 – Cartas sobre a Confederação dos Tamoios
1865 – Ao Imperador: Cartas Políticas de Erasmo, Novas Cartas Políticas de Erasmo
1866 – Sistema Representativo
1874 – Ao Correr da Pena
1893 – Como e porque sou Romancista

GLOBO, Central. JOSÉ DE ALENCAR. Disponível em: <http://educacao.globo.com/literatura/assunto/autores/jose-de-alencar.html>. Acesso em 4 abr. 2016.
POCKET, L&MP. JOSÉ DE ALENCAR. Disponível em: <http://www.lpm.com.br/site/default.asp?TroncoID=805134&SecaoID=948848&SubsecaoID=0&Template=../livros/layout_autor.asp&AutorID=826484>. Acesso em 4 abr. 2016.

Camões de Almeida Garrett


CANTO PRIMEIRO
Esta é a ditosa pátria minha amada,
À qual se o céu me dá que eu sem perigo
Torne com esta empresa já acabada.
Acabe-se esta luz ali comigo.
Lusíadas

Saudade! gosto amargo de infelizes,
Delicioso pungir de acerbo espinho,
Que me estás repassando o íntimo peito
Com dor que os seios d’alma dilacera,
- Mas dor que tem prazeres - Saudade!
Misterioso númen, que aviventas
Corações que estalaram, e gotejam

Não já sangue de vida, mas delgado
Soro de estanques lágrimas - Saudade!
Mavioso nome que tão meigo soas
Nos lusitanos lábios, não sabido
Das orgulhosas bocas dos Sicambros
Destas alheias terras - Oh Saudade!
Mágico númen que transportas a alma
Do amigo ausente ao solitário amigo,
Do vago amante à amada,

Principais Artistas

Gericault (1746-1828) – Foi o primeiro líder romântico.
Principal obra: A balsa da medusa.
 (A balsa da medusa, 1818, Gericault)

Eugène Delacroix (1799-1863)- tornou-se líder do movimento romântico depois da morte de Gericault, e retrata o uso das cores, luzes e foco nas obras de caráter político.

Deus? - A Marcos Antônio Canini

Quem me terá trazido a mim suspenso,
Atônito, alheado... ou a quem devo,
Enfim, dizer que em nada mais me enlevo,
A ninguém mais do coração pertenço?...

Se desço ao vale, ao alcantil me elevo,
Quem é que eu busco, em que será que eu penso?
És tu memória de horizonte imenso
Que me encheu alma dum eterno enlevo?...

Segues-me sempre... e só por ti suspiro!
Vejo-te em tudo... terra e céu te esconde!
Nunca te vi... cada vez mais te admiro!

Nunca essa voz à minha voz responde.
E eco fiel até do ar que aspiro,
Sinto-te o hálito!... em minha alma ou onde?

O eu - lírico do poema fala sobre algo que ele vê em todos os lugares por onde ele passa:

Se desço ao vale, ao alcantil me elevo,
Quem é que eu busco, em que será que eu penso?
És tu memória de horizonte imenso
Que me encheu alma dum eterno enlevo?...

E quem esse “alguém” que ele fala está sempre seguindo o eu - lírico, mas nunca se ouviu nem a sua voz:

Nunca essa voz à minha voz responde.
E eco fiel até do ar que aspiro,
Sinto-te o hálito!... em minha alma ou onde?

Resposta

 Em fumo se vai tudo, amigo: olhando
Para as nuvens do céu, nuvens daquelas,
E até não sei se diga que mais belas
Anda a gente fazendo e desmanchando!

Dá-me uma saudade em me lembrando
Do belo tempo que passei com elas
Por imensa abóbada de estrelas,
Por esse mar de fogo viajando!

Andasse ainda eu lá, que não me havia
De ver por estes charcos atolado,
Onde nem sol nem lua me alumiam!

Andasse ainda eu lá, desenganado
Mesmo já como estou de achar um dia
Essa pátria de onde ando desterrado!

No poema é falado da saudade do eu - lírico por sua terra natal, das lembranças que ele guarda e ele compara os momentos de vida como às nuvens que chegam e não demoram muito elas somem, se dissipam:

Em fumo se vai tudo, amigo: olhando
Para as nuvens do céu, nuvens daquelas,
E até não sei se diga que mais belas
Anda a gente fazendo e desmanchando!

Adeus

A ti que em astros desenhei nos céus,
A ti que em nuvens desenhei nos ares,
A ti que em ondas desenhei nos mares,
A ti, bom anjo, o derradeiro adeus!

Parto! Se um dia (que é possível, flor!)
Vires ao longe negrejar um vulto,
Sou eu que aos olhos desta gente oculto
O nosso imenso desgraçado amor.

Talvez as feras ao ouvir meus ais,
As brutas selvas, as montanhas brutas,
Côncavas rochas, solitárias grutas,
Mais se condoam, se comovam mais!

E lá daquelas solidões se aqui
Chegar gemido que uma pedra estala,
Que um cedro vibra que um carvalho abala,
Sou eu que o solto por amor de ti...

De ti, que em folha que varrer o ar,
Em rama, em sombra que bandeie a aragem,
De fito sempre nessa cara imagem
Verei, sorrindo, sentirei passar!

De ti que em astros desenhei nos céus,
De ti que em nuvens desenhei nos ares!
De ti que em ondas desenhei nos mares,
E a quem envio o derradeiro adeus!

O eu - lírico relata as lembranças a respeito de alguma amada que ficou que não está junto dele e ele desenha por todo lugar por onde ele passa essa amada para não esquecê-la:

A ti que em astros desenhei nos céus,
A ti que em nuvens desenhei nos ares,
A ti que em ondas desenhei nos mares,
A ti, bom anjo, o derradeiro adeus!

Último Adeus

Fique em silêncio eterno minha lira;
Vai eflúvio de Deus! Deus te bem fade;
Nesta alma em teu lugar fica a saudade,
Se a essência sobrevive à flor que expira.

Dizer-te adeus não pude; quando ocorre
Tal voz ao lábio, o lábio empalidece,
Como a nota da lira nos falece
Ante a lua que cai, e o sol que morre;

Ante o sopro que varre o cedro e o vime,
Ante o sublime aspecto do oceano,
Ante a esposa do Mártir sobre-humano,
Ante tudo o que é grande e que é sublime.

Embora: quando a lâmpada crepita,
Já falta óleo de lânguida esvoaça;
A nuvem estala, ruge a onda, e passa...
Guarda em silêncio a abóbada infinita.

O poema explicita a respeito de um eu - lírico que está exilado e fala da sua tristeza de ter deixado tudo para trás, sua amada.
Fica bem visível que o eu - lírico está muito triste pela sua perda no momento em que ele diz:
  
Fique em silêncio eterno minha lira;
Vai eflúvio de Deus! Deus te bem fade;
Nesta alma em teu lugar fica a saudade,

No final do poema a impressão que passa é que já se passou muitos anos e que o eu - lírico já está no fim da vida, quando ele faz a comparação de sua alma sendo o óleo que já falta.

Embora: quando a lâmpada crepita,
Já falta óleo de lânguida esvoaça;
A nuvem estala, ruge a onda, e passa...

A lua de Londres

É noite. O astro saudoso
rompe a custo um plúmbeo céu,
tolda-lhe o rosto formoso
alvacento, húmido véu,
traz perdida a cor de prata,
nas águas não se retrata,
não beija no campo a flor,
não traz cortejo de estrelas,
não fala de amor às belas,
não fala aos homens de amor.

Meiga Lua! Os teus segredos
onde os deixaste ficar?
Deixaste-os nos arvoredos
das praias de além do mar?
Foi na terra tua amada,
nessa terra tão banhada
por teu límpido clarão?
Foi na terra dos verdores,
na pátria dos meus amores,
pátria do meu coração!

Oh! que foi!... Deixaste o brilho
nos montes de Portugal,
lá onde nasce o tomilho,
onde há fontes de cristal;
lá onde viceja a rosa,
onde a leve mariposa
se espaneja à luz do Sol;
lá onde Deus concedera
que em noite de Primavera
se escutasse o rouxinol.

Tu vens, ó Lua, tu deixas
talvez há pouco o país
onde do bosque as madeixas
já têm um flóreo matiz;
amaste do ar a doçura,
do azul e formosura,
das águas o suspirar.
Como hás-de agora entre gelos
dardejar teus raios belos,
fumo e névoa aqui amar?

Quem viu as margens do Lima,
do Mondego os salgueirais;
quem andou por Tejo acima,
por cima dos seus cristais;
quem foi ao meu pátrio Douro
sobre fina areia de ouro
raios de prata esparzir
não pode amar outra terra
nem sob o céu de Inglaterra
doces sorrisos sorrir.

Das cidades a princesa
tens aqui; mas Deus igual
não quis dar-lhe essa lindeza
do teu e meu Portugal.
Aqui, a indústria e as artes;
além, de todas as partes,
a natureza sem véu;
aqui, ouro e pedrarias,
ruas mil, mil arcarias;
além, a terra e o céu!

Vastas serras de tijolo,
estátuas, praças sem fim
retalham, cobrem o solo,
mas não me encantam a mim.
Na minha pátria, uma aldeia,
por noites de lua cheia,
é tão bela e tão feliz!...
Amo as casinhas da serra
coa Lua da minha terra,
nas terras do meu país.

Eu e tu, casta deidade,
padecemos igual dor;
temos a mesma saudade,
sentimos o mesmo amor.
Em Portugal, o teu rosto
de riso e luz é composto;
aqui, triste e sem clarão.
Eu, lá, sinto-me contente;
aqui, lembrança pungente
faz-me negro o coração.

Eia, pois, ó astro amigo,
voltemos aos puros céus.
Leva-me, ó Lua, contigo,
preso num raio dos teus.
Voltemos ambos, voltemos,
que nem eu nem tu podemos
aqui ser quais Deus nos fez;
terás brilho, eu terei vida,
eu já livre e tu despida
das nuvens do céu inglês.

No poema o eu - lírico retrata o seu exílio, o fato de estar longe de sua terra natal, de sua pátria mãe e de idolatrar seu país de nascimento que é Portugal o eu - lírico qualifica seu lugar de origem como tendo uma beleza quase divina.

Se espaneja à luz do Sol;
lá onde Deus concedera
que em noite de Primavera
se escutasse o rouxinol.

O eu - lírico desqualifica as lua de Londres para poder reforçar a idealização da sua pátria natalícia:

Vastas serras de tijolo,
estátuas, praças sem fim
retalham, cobrem o solo,
mas não me encantam a mim.
Na minha pátria, uma aldeia,
por noites de lua cheia,
é tão bela e tão feliz!...
Amo as casinhas da serra
coa Lua da minha terra,
nas terras do meu país.

No poema é possível sentir a dor que o exilado sofre por conta dos elementos usados, como as palavras noite e lua:

   Eu e tu, casta deidade,
padecemos igual dor;
temos a mesma saudade,
sentimos o mesmo amor.
Em Portugal, o teu rosto
de riso e luz é composto;
aqui, triste e sem clarão.
Eu, lá, sinto-me contente;
aqui, lembrança pungente
faz-me negro o coração.

terça-feira, 3 de maio de 2016

O Firmamento

Glória Deus!  Eis aberto o livro imenso,
O livro do infinito,
Onde em mil letras de fulgor intenso
Seu nome adoro escrito.
Eis do seu tabernáculo corrida
Uma ponta do véu misterioso:
Desprende as asas, remontando à vida,
Alma que anseias pelo eterno gozo!

Estrelas, que brilhais nessas moradas,
Quais são vossos destinos?
Vós sois, vós sois as lâmpadas sagradas
De seus umbrais divinos.
Pululando do selo onipotente,
E sumidas por fim na eternidade,
Sois as faíscas do seu carro ardente
A rolar através da imensidade.

E cada qual de vós um astro encerra,
Um Sol que apenas vejo,
Monarca doutros mundos como a terra
Que formam seu cortejo.
Ninguém pode contar-vos: quem pudera
Esses mundos contar a que dais vida,
Escuros para nós, qual nossa esfera
Vos é nas trevas da amplidão sumida.

Mas vós perto brilhais, no fundo acesas
Do trono soberano;
Quem vos há de seguir nas profundezas
Desse infinito oceano?
E quem há de contar-vos nessas plagas
Que os céus ostentam de brilhante alvura,
Lá onde sua mão sustém as vagas
Dos sóis que um dia romperão na altura?

E tudo outrora na mudez jazia,
Nos véus do frio nada;
Reinava a noite escura; a luz do dia
Era em Deus concentrada.
Ele falou! e as sombras mim momento
Se dissiparam na amplidão distante!
Ele falou! e o vasto Armamento
Seu véu de mundos desfraldou ovante!

E tudo despertou, e tudo gira imerso em seus fulgores;
E cada mundo é sonorosa lira
Cantando os seus louvores.
Cantai, ó mundos que o seu braço impele,
Harpas da criação, fachos do dia,
Cantai louvor universal Àquele,
Que vos sustenta e nos espaços guia!

Terra, globo que geras nas entranhas
Meu ser, o ser humano,
Que és tu com teus vulcões, tuas montanhas,
E com teu vasto oceano?
Tu és um grão de areia arrebatado
Por esse imenso turbilhão de mundos
Em volta de seu trono levantado
Do universo nos seios mais profundos.

E tu, homem, que és tu, ente mesquinho
Quando soberbo te elevas,
Buscando sem cessar abrir caminho
Por tuas densas trevas?
Que és tu com teus impérios e colossos?
um átomo sutil, um frouxo alento!
Tu vives um instante, e de teus ossos
Só restam cinzas, que sacode o vento.

Mas ah! tu pensas, e o girar dos orbes
À razão encadeias;
Tu pensas, e inspirado em Deus te absorves
Na chama das idéias:
Alegra-te, imortal, que esse alto lume
Não morre em trevas num jazigo escasso!
Glória a Deus, que num átomo resume
O pensamento que transcende o espaço!

Caminha, ó rei da terra! se inda és pobre
Conquista áureo destino,
E de século em século mais nobre
Eleva a Deus teu hino;
E tu, ó terra, nos floridos mantos
Abriga os filhos que em teu seio geras,
E teu canto de amor reúne aos cantos
Que a Deus se elevam de milhões de esferas!

Dizem que já sem forças, Moribunda,
Tu vergas decadente:
Oh! Não!  De tanto Sol que te circunda
Teu Sol inda é fulgente;
Tu és jovem ainda: a cada passo
Tu assistes de um mundo às agonias,
E rolas entretanto nesse espaço
Coberta de perfumes e harmonias.
Mas ai! tu findarás!  Além cintila
Hoje um astro brilhante;
Amanhã ei-lo treme, ei-lo vacila,
E fenece arquejante.
Quem foi?  Quem o apagou?  Foi seu alento
Que extinguiu essa luz já fatigada,
Foram séculos mil, foi um momento
Que a eternidade fez volver ao nada.

Um dia, quem o sabe? um dia ao peso
Dos anos e ruínas,
Tu cairás nesse vulcão aceso
Que teu Sol denominas;
E teus irmãos também, esses planetas
Que a mesma vida, a mesma luz inflama,
Atraídos enfim, quais borboletas,
Cairão como tu na mesma chama!

Então, ó Sol, então nesse áureo trono,
Que farás tu ainda,
Monarca solitário, e em abandono,
Com tua glória finda?
Tu findarás também, a fria morte
Alcançará teu carro chamejante:
Ela te segue, e profetiza a sorte
Nessas manchas que toldam teu semblante.

Que são elas?  Talvez os restos frios
De algum antigo mundo,
Que inda referve em borbotões sombrios
No teu seio profundo,
Talvez, e envolta pouco e pouco a frente
Nas cinzas sepulcrais de cada filho,
Debaixo deles todos de repente
Apagarás teu vacilante brilho.

E as sombras passarão no vasto império
Que teu facho alumia;
Mas que vale de menos um saltério
Dos orbes na harmonia?
Outro Sol como tu, outras esferas
Virão no espaço descansar seu hino,
Renovando nos sítios onde imperas
Do Sol dos Sóis o resplendor divino.

Glória a seu nome!  Um dia meditando
Outro céu mais perfeito,
O céu d'agora ao seu altivo mando
Talvez caia desfeito.
Então mundos, estrelas, Sóis brilhantes,
Qual bando d’águias na amplidão disperso,
Chocando-se em destroços fumegantes,
Desabarão no fundo do universo.

Então a vida, refluindo ao seio
Do foco soberano,
Parará concentrando-se no meio
Desse infinito oceano
E, acabado por fim quanto fulgura,
Apenas restarão na imensidade:
— O silêncio, aguardando a voz futura,
O trono de Jeová, e a eternidade!


Autor: Soares dos Passos (1826-1860)
Editado por Nicola David

O Noivado do Sepulcro

Vai alta a lua! na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.

Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma semelhante a um monge,
D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.

Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.

Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre as campas, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.

Chegando perto duma cruz alçada,
Que entre ciprestes alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e com a voz magoada
Os ecos tristes acordou assim:

"Mulher formosa, que adorei na vida,
"E que na tumba não cessei d'amar,
"Por que atraiçoas, desleal, mentida,
"O amor eterno que te ouvi jurar?

"Amor! engano que na campa finda,
"Que a morte despe da ilusão falaz:
"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda
"Do pobre morto que na terra jaz?

"Abandonado neste chão repousa
"Há já três dias, e não vens aqui...
"Ai, quão pesada me tem sido a lousa
"Sobre este peito que bateu por ti!

"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E entre soluços arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.

"Talvez que rindo dos protestos nossos,
"Gozes com outro d'infernal prazer;
"E o olvido cobrirá meus ossos
"Na fria terra sem vingança ter!

- "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda,
Responde um eco suspirando além...
- "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda
Formosa virgem que em seus braços tem.

Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,
Longas roupagens de nevada cor;
Singela c'roa de virgínias rosas
Lhe cerca a fronte dum mortal palor.

"Não, não perdeste meu amor jurado:
"Vês este peito? reina a morte aqui...
"É já sem forças, ai de mim, gelado,
"Mas inda pulsa com amor por ti.

"Feliz que pude acompanhar-te ao fundo
"Da sepultura, sucumbindo à dor:
"Deixei a vida... que importava o mundo,
"O mundo em trevas sem a luz do amor?

"Saudosa ao longe vês no céu a lua?
- "Oh vejo sim... recordação fatal!
- "Foi à luz dela que jurei ser tua
"Durante a vida, e na mansão final.

"Oh vem! se nunca te cingi ao peito,
"Hoje o sepulcro nos reúne enfim...
"Quero o repouso de teu frio leito,
"Quero-te unido para sempre a mim!"

E ao som dos pios do cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrado, d'infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.

Soares de Passos, in 'Antologia Poética'

A NOITE DO CASTELO

Doce era a voz de Inês, maga, sublime
Na harmonia e no afeto; hino a disséreis,
Digno do santuário onde nascia;
Suave como a brisa que madruga
Sonora entre os rosais, de si vertia
Pelo ouvido um frescor e uma inocência,
Como celeste orvalho. O que a não visse,
Escutando-a falar sentira amores;
O que acesas paixões nutrisse inquieto,
As esquecera ouvindo-a; e cada frase,
Simples, indiferente em lábios de outra,
Assumia nos seus matiz, perfume;
Voara, e inda nos ânimos trementes
Ficava ressoando, como pomba
Que fugindo pelo ar estampa n’água
De um lago atento as asas cor de neve...”

E o preço aos dons de Inês Inês ignora!
Como ela às mais, aos mais excede Adolfo,
Ilustre castelão da oposta margem,
Intrépido, e cortês. Mais de um combate
Lhe ganhara troféus, lhe alçara o nome.
Temido pelos infiéis, aceito às damas,
Na guerra vencedor, na paz vencido,
Pudera (se inda então durasse a usança
De fantasiar divisa) abrir no escudo
Águia entre as nuvens empolgando raios,
Pombas aos beijos entre crespas murtas,
Cisne em gorjeios de alta palma à sombra...”

Ninguém lho estranharia, que ao Levante
Guerreiro trovador não foi como ele.
Quando, após o combate, a quente lança
A gotejar depunha, a mão tão fera
Da mandora* nas cordas se ameigava
Para a casar com os improvisos cantos.
Era amor o seu estro, amor sua alma,
Sua existência amor. Outras lembranças
Do passado não tinha; outros cuidados
Lhe não dava o futuro. Aqui prendiam
Seus méritos gentis, seus vícios grandes;
E esses vícios que entre homens o infamavam,
Ante olhos feminis eram virtudes.
Fanático, ao seu ídolo imolava,
Se a captar-lhe o favor tanto cumprisse,
Os deveres, a vida, a glória mesma.
Bem que altivo de si, rendia às damas
O que bom cavaleiro às damas deve;
Mas, apenas cativo em braços de uma,
Por uma afrontaria o sexo inteiro,
Folgara dá-lo em vítima ao seu nume.
Todas por isso o receavam; todas
Ardiam ter em seus grilhões submisso
Este horrível leão; mas para ele
Mais que uma só mulher não tinha o mundo;
E essa é, de muito, Inês. Anos se contam
Que os inimigos seus debalde estudam
Apontar-lhe um transvio a novo afeto...”

A CRUZ MULTILADA

Amo-te, ó cruz, no vértice firmada
De esplêndidas igrejas;
Amo-te quando à noite, sobre a campa,
Junto ao cipreste alvejas;
Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos,
As preces te rodeiam;
Amo-te quando em préstito festivo
As multidões te hasteiam;    
Amo-te erguida no cruzeiro antigo,
No adro do presbitério,
Ou quando o morto, impressa no ataúde,
Guias ao cemitério;
Amo-te, ó cruz, até, quando no vale
Negrejas triste e só,
Núncia do crime, a que deveu a terra
Do assassinado o pó;
Porém, quando mais te amo,
Ó cruz do meu Senhor,
É se te encontro à tarde,
Antes de o sol se pôr,
Na clareira da serra,
Que o arvoredo assombra,
Quando à luz que fenece
Se estira a tua sombra,
 E o dia últimos raios
Com o luar mistura,
E o seu hino da tarde

O pinheiral murmura.

Análise: nesse poema, o autor fala sobre melancolia, sobre tristeza e morte. Nos versos “Amo-te erguida no cruzeiro antigo, / No adro do presbitério, / Ou quando o morto, impressa no ataúde, / Guias ao cemitério;”, é nítida a presença de características da segunda fase do Romantismo, onde os autores escrevem seus poemas com tristeza, abordam o tema “morte”, essa fase é chamada de Ultra-Romântica. 

Esses sítios!

Olha bem estes sítios queridos,
Vê-os bem neste olhar derradeiro...
Ai! o negro dos montes erguidos,
Ai! o verde do triste pinheiro!
Que saudade que deles teremos...
Que saudade! ai, amor, que saudade!
Pois não sentes, neste ar que bebemos,
No acre cheiro da agreste ramagem,
Estar-se alma a tragar liberdade
E a crescer de inocência e vigor!
Oh! aqui, aqui só se engrinalda
Da pureza da rosa selvagem,
E contente aqui só vive Amor.
O ar queimado das salas lhe escalda
De suas asas o níveo candor,
E na frente arrugada lhe cresta
A inocência infantil do pudor.
E oh! deixar tais delícias como esta!
E trocar este céu de ventura
Pelo inferno da escrava cidade!
Vender alma e razão à impostura,
Ir saudar a mentira em sua corte,
Ajoelhar em seu trono à vaidade,
Ter de rir nas angústias da morte,
Chamar vida ao terror da verdade...
Ai! não, não... nossa vida acabou,
Nossa vida aqui toda ficou
Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro,
Dize à sombra dos montes erguidos,
Dize-o ao verde do triste pinheiro,
Dize-o a todos os sítios queridos
Desta rude, feroz soledade,
Paraíso onde livres vivemos,
Oh! saudades que dele teremos,
Que saudade! ai, amor, que saudade!

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'

Análise: O início do poema é cheio de palavras que exaltam e caracterizam a natureza, cheia de vida e beleza. Após a metade do poema, os versos começam a ser escritos com melancolia, que é característica da segunda fase do movimento Romantismo, sendo a fase “Ultra-Romântica”. Os autores buscam escrever poemas cheio de pessimismo, tem suas vidas pautadas na boemia, vivendo em ambientes sombrios. Nesse poema, há diversos versos que falam da morte, tristeza.

Agora!

A luz que dá o teu rosto
É a luz da madrugada,
Mas vi-a quase ao sol-posto
De uma vida amargurada...
Tão tarde vi teu rosto!

Oh! Se na manhã da vida
Me raia logo essa aurora,
Quanta folha e flor caída
Me embelezara inda agora
O triste arbusto da vida!

Mas andei sempre às escuras...
Por onde nem se lobriga
Luz de estrela nas alturas,
Quanto mais em face amiga...
Eu andei sempre às escuras!

E agora vendo a beleza
Dessa luz que me alumina,
Não sei se a minha tristeza
É mais que a minha alegria...
Vendo agora essa beleza!


Nas primeiras estrofes, o eu-lírico encontra com a mulher, reconhece no rosto dela uma vida sofrida. Mesmo assim, toda essa amargura era compensada pela beleza da mulher.

O homem, que sempre estava sozinho, agora tinha alguém que iluminava e espantava essa escuridão. A tristeza passava na presença da luz e da beleza que sua amada tinha e tudo se transformava em alegria.

Letra

A lua desce
E ao seu clarão
A mágoa cresce
No coração;
E com bem mágoa
Pedi a Deus
Um pingo de água
Dos olhos seus

A lua desce
E ao seu clarão
A mágoa cresce
No coração;
Cresce, que o pranto
Desse bom pai
Cai em seu manto,
Do céu não cai.

A lua desce
E ao seu clarão
A mágoa cresce
No coração;
Cresce, que o lírio
Branco do vale
Não tem martírio
Nem sede igual.

A lua desce
E ao seu clarão
A mágoa cresce
No coração;
E com bem mágoa
Peço ao Senhor,
Um pingo de água
Que orvalhe a flor!

Lágrima sua
Vendo ao clarão
Da frouxa lua
No coração,
Cai-me dos olhos
Em pranto a dor,
Como de abrolhos
Brota uma flor.

Nesta poesia, o autor introduziu certa musicalidade pela repetição.
A lua, descrita diversas vezes pelo eu-lírico, é a sua mulher ideal e amada. Ela, com seu brilho, apenas faz crescer cada vez mais mágoas e dor nele, já que ela está morta.
Diferente das poesias anteriores, há certa espiritualidade, uma conversa clara do eu-lírico com Deus, onde ele pede para que cuide de sua amada. Logo mais, o eu-lírico menciona uma flor que é seus próprios sentimentos. Ele pede a Deus que orvalhe a flor para que a mantenha viva dentro de si.
Na última estrofe, há um corte no ritmo que era imposto pela poesia, já que o autor deixa de fazer a repetição.
Mesmo com tanta dor e saudades de sua amada, o eu-lírico não deixa de lembrar de todo o brilho que ela possuía, de toda sua graça. E, com tanta mágoa, ainda assim, é capaz de brotar sentimentos nele.