Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai!, não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Em nível de estrutura externa do
poema, Almeida Garrett opta por três estrofes de oito versos (oitava) e usa,
relativamente ao esquema rimático, a rima cruzada (ABAB) nos primeiros quatro
versos de cada estrofe e a rima emparelhada (AABB) nos dois últimos versos de
cada estrofe. A rima é também rica e atoante. Quanto ao esquema métrico o
poema é composto por redondilhas maiores (7 sílabas métricas), por
octossílabos (8 sílabas métricas) e o último de todos os versos é hexassilábico
(6 sílabas).
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