Linha do Tempo

Linha do Tempo

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Destino - Almeida Garrett

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai!, não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Em nível de estrutura externa do poema, Almeida Garrett opta por três estrofes de oito versos (oitava) e usa, relativamente ao esquema rimático, a rima cruzada (ABAB) nos primeiros quatro versos de cada estrofe e a rima emparelhada (AABB) nos dois últimos versos de cada estrofe. A rima é também rica e atoante. Quanto ao esquema métrico o poema é composto por redondilhas maiores (7 sílabas métricas), por octossílabos (8 sílabas métricas) e o último de todos os versos é hexassilábico (6 sílabas).

O Anjo Caído - Almeida Garrett

Era um anjo de Deus
Que se perdera dos céus
E terra a terra voava.
A seta que lhe acertava
Partira de arco traidor,
Porque as penas que levava
Não eram penas de amor.

O anjo caiu ferido
E se viu aos pés rendido
Do tirano caçador.
De asa morta e sem esplendor
O triste, peregrinando
Por estes vales de dor,
Andou gemendo e chorando.

Vi-o eu, n anjo dos céus,
O abandonado de Deus,
Vi-o, nessa tropelia
Que o mundo chama alegria,
Vi-o a taça do prazer
Pôr ao lábio que tremia
E só lágrimas beber.

Ninguém mais na terra o via,
Era eu só que o conhecia
Eu que já não posso amar!
Quem no havia de salvar?
Eu, que numa sepultura
Me fora vivo enterrar?
Loucura! Ai, cega loucura!

Mas entre os anjos dos céus
Cantava um anjo ao seu Deus;
E remi-lo e resgatá-lo,
Daquela infâmia salvá-lo
Só força de amor podia.
Quem desse amor há-de amá-lo,
Se ninguém o conhecia?

Eu só, – e eu morto, eu descrido,
Eu tive o arrojo atrevido
De amar um anjo sem luz.
Cravei-a eu nessa cruz
Minha alma que renascia,
Que toda em sua alma pus,
E o meu ser se dividia,

Porque ela outra alma não tinha,
Outra alma senão a minha...
Tarde, ai! tarde o conheci,
Porque eu o meu ser perdi,
E ele à vida não volveu...
Mas da morte que eu morri
Também o infeliz morreu.

A trama do poema O Anjo Caído é regida por duas forças superiores e antagônicas, uma celeste e a outra terrena, às quais correspondem dois seres tais quais celestial e terrenal: o anjo caído e o eu lírico. Aquela força abandona, enquanto esta se impõe; abandona o que a representa e, então, ele, o anjo, é submetido aos pés da figura terrenal opressora.

Barca Bela - Almeida Garrett


Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Oh pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Oh pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela

Oh pescador!

Nestes prezava-se a razão. Para seus defensores o verdadeiro é o natural e o natural é o racional. Dentro da visão iluminista prezavam-se, na poesia, valores como clareza, ordem lógica, adequação ao pensamento. Em Portugal, figuras como Verney, que liderava o movimento de ilustração, pregavam o predomínio absoluto à aplicação das normas, extremamente racionalistas, para eles poetar dependia de conhecer as normas da poesia; quando alguém as abandona e confia na inspiração, desanda. O engenho (imaginação) do poeta deveria estar permanentemente subordinado ao juízo, muito mais importante. Sem obediência à razão não haveria beleza.
O romantismo propõe, com sua carga revolucionária, a quebra desse sistema rígido e alienante imposto pelo classicismo. Para o romântico, o encontro com a verdade se alcança pela sinceridade, o homem busca o que tem de mais sincero: o seu instinto, o seu sentimento, finalmente dando vazão ao seu mundo interior. E são os preceitos românticos em contestação ao classicismo, que Almeida Garrett vem evocar em seu poema.

Não te Amo - Almeida Garrett

Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
      E eu n’alma - tenho a calma,
      A calma - do jazigo.
      Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
      E a vida - nem sentida
      A trago eu já comigo.
      Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
      De um querer bruto e fero
      Que o sangue me devora,
      Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
      Quem ama a aziaga estrela
      Que lhe luz na má hora
      Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
      De mau, feitiço azado
      Este indigno furor.
      Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
      Que de mim tenho espanto,
      De ti medo e terror...
      Mas amar!... não te amo, não.

“Não te amo” é um poema romântico, e o próprio título realça a idéia de sentimentalismo, de tema amoroso. Aliás, a freqüente repetição de “não te amo” não é mais que uma artimanha para se afirmar o amor. A negação acaba por evidenciar um sentimentalismo repudiado: o amor.
O eu-lírico deixa a inspiração sobrepujar a razão e as tentativas de justificar levam-no a ceder-se a um amor sôfrego, mesmo “aterrorizante”:

Este Inferno de Amar - Almeida Garrett

Este inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

O poema “Este Inferno de Amar", de Almeida Garrett, é composto por três estrofes, contendo seis versos em cada estrofe. O poema possui versos livres e melodiosos típicos do romantismo. Percebe-se, no poema, uma ideia contrária daquilo que temos por amor, uma vez que, temos a convicção que o amor nos da sensação de prazer, felicidade e encanto, enquanto para o “eu- lírico", amar é um inferno. Percebe-se também no poema, a confusão dos sentimentos do amante.

Poemas completos de Júlio Dinis


MOMENTO DECISIVO
O Sol descia ao poente,
E florente estava o prado;
Ouviam-se auras suaves
E das aves o trinado.

Tu sentada ao pé da fonte
O horizonte contemplavas
Vias o Sol declinando
E, corando, suspiravas.

E depois... seria acaso?
Do ocaso a vista ergueste,
E, ao olhar-me, mais coraste,
Suspiraste e emudeceste.

Foi bem rápido o momento
De um alento repentino;
Porém nesse olhar de fogo
Eu li logo o meu destino.

Nesse olhar, no rubor vivo,
No furtivo respirar...

Diz, tu mesma nessas letras
Não soletras já: amar?

José de Alencar



José de Alencar foi o pioneiro do Movimento Literário Romantismo no Brasil. Nascido no Nordeste Brasileiro teve sua primeira obra publicada aos seus 26 anos, a qual levou o título: Cinco Minutos. Esse autor era diferente dos autores de sua época que escreviam suas histórias a partir de uma perspectivas Portuguesas, Alencar tinha o Brasil como cenário em todas as suas obras, já que valorizava o sertão e o índio, assim se tornando um romancista  indianista.
Em suas Obras, Alencar mostra um cuidado maior com a cultura nacional Brasileira, expressando em suas narrativas Urbanas fazendo críticas  sociais, já em suas  obras Indianistas procurava narrar o índio como mocinho e o homem branco como vilão, em suas obras com temas regionais valorizava os costumes naturalmente de pessoas Brasileiras do interior e a histórica explora temas como Colonização e Exploração no Brasil.

Romances:
1856 – Cinco Minutos
1857 – O Guarani, A Viuvinha
1862 – Lucíola
1864 – Diva
1865 – Iracema, As Minas de Prata (1o Volume)
1866 – As Minas de Prata (2o Volume)
1870 – O Gaúcho, A Pata da Gazela
1871 – O Tronco do Ipê, A Guerra dos Mascates (1o Volume)
1872 – Sonhos d’Ouro, Til
1873 – Alfarrábios (O Garatuja, O Ermitão da Glória, Alma de Lázaro), A Guerra dos Mascates (2o Volume)
1874 – Ubirajara
1875 – Senhora, O Sertanejo
1893 – Encarnação

Teatro:
1857 – O Crédito, Verso e Reverso, Demônio Familiar
1858 – As Asas de um Anjo
1860 – Mãe
1867 – A Expiação
1875 – O Jesuíta

Não-ficção:
1856 – Cartas sobre a Confederação dos Tamoios
1865 – Ao Imperador: Cartas Políticas de Erasmo, Novas Cartas Políticas de Erasmo
1866 – Sistema Representativo
1874 – Ao Correr da Pena
1893 – Como e porque sou Romancista

GLOBO, Central. JOSÉ DE ALENCAR. Disponível em: <http://educacao.globo.com/literatura/assunto/autores/jose-de-alencar.html>. Acesso em 4 abr. 2016.
POCKET, L&MP. JOSÉ DE ALENCAR. Disponível em: <http://www.lpm.com.br/site/default.asp?TroncoID=805134&SecaoID=948848&SubsecaoID=0&Template=../livros/layout_autor.asp&AutorID=826484>. Acesso em 4 abr. 2016.